quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Ajuda na Conexão entre Pais e Filhos!



Autor: Marcelo Michelsohn
Durante minha férias, algumas situações me chamaram a atenção e me levaram a refletir sobre a conexão entre pais e filhos. São situações corriqueiras que podem acontecer com qualquer um de nós. Coloco-as aqui não para que fiquemos nos chicoteando, mas para que consigamos sair do piloto automático e tentar outras formas de nos relacionarmos com nossos filhos. Espero que esse texto sirva de base para você refletir individualmente e/ou para conversar com seu companheiro ou sua companheira. Ao final do texto apresento 3 princípios que podem nos ajudar a evitar o uso das palmadas e outros tipos de punição.
Situação 1:
“Papai por que você diz toda hora para eu tomar cuidado pra não me machucar e agora você está me machucando de propósito?”, disse ao pai uma menina de 4 anos, enquanto ele dava “palmadinhas” em seu bumbum.
O pai parou imediatamente. Perdeu o rumo. Sentiu que o que estava fazendo era absurdo. Entendeu que, de certa maneira, ao dar as palmadas estava “ensinando” que:
  • Deve-se obedecer àqueles que tem mais força ou poder do que você, caso contrário sofrerá consequências;
  • Só gosto de você quando você faz o que eu acho certo;
  • É certo abusar do seu poder para conquistar algo que você queira.
Situação 2:
Outro pai me contou que o filho de 1 ano está mordendo a filha de 4 anos e que nas últimas duas vezes ele deu um “tapinha” na boca do filho para que ele aprenda. O que será que ele está aprendendo?
  • Se você for violento não deixe seu pai descobrir, ou vai apanhar;
  • Seu pai não gosta que você morda, mas dar tapas é permitido (já que o pai deu um tapa na sua boca);
  • Quando você extravasar uma emoção, pode apanhar.
Situação 3:
Uma mãe, cujas filhas tomam umas palmadas do pai, as chamava e dizia que não poderiam entrar em um determinado lugar. As filhas não obedeceram. Depois de pedir mais de 5 vezes a mãe teve que ir buscá-las e comentou: “Por que é tão difícil com minhas filhas? Por que elas não obedecem?”
Refletir sobre estas situações me ensinou algumas coisas sobre educação e criação de filhos:
  • Bater é mais comum do que eu imaginava;
  • As crianças sentem e sabem que estão sendo agredidas, mesmo que seja uma “palmadinha” e que a intenção seja educar.
  • Pais e mães têm muita dificuldade de estabelecer limites e acabam optando pela punição;
  • Maridos e mulheres estão muitas vezes em posições opostas no que diz respeito a como educar os filhos;
Alfie Kohn, autor de Unconditional Parenting, apresenta alguns problemas da punição:
  • Mau comportamento e punição não são opostos que se cancelam, mas sim pólos que se reforçam;
  • Punição não leva a criança a refletir sobre o que fez, por que o fez ou sobre o que deveria ter feito.
E continua, explicando porque não fazemos diferente:
  • Tratamos nossos filhos dessa forma condicional pois, em primeiro lugar, fomos tratados assim quando crianças. É preciso esforço, disciplina e coragem para refletir sobre o que deve ser mantido e o que não serve mais. Isso é difícil pois demanda uma capacidade de criticar o que nossos pais fizeram conosco, ao mesmo tempo em que mantemos uma atitude amorosa para com eles;
  • É mais fácil usar táticas para controlar as crianças, pois trabalhar em outros tipos de soluções requer mais de nós e, pior, muitas vezes nem sequer sabemos o que pode ser feito diferente. Além disso, punição e recompensa funcionam no curto prazo. Tal como em outros casos, os efeitos cumulativos do uso dessa estratégia não aparecem imediatamente, mas sim no longo prazo, quando já pode ser tarde demais.
  • Temos medo da crítica de outros adultos. Nossa sociedade tende a aceitar mais um pai que controla e pune do que aquele que tenta se conectar.
Segundo Alfie Kohn, não existe uma receita, um passo a passo, um manual de instruções dizendo o que fazer e falar em cada situação. Ele oferece 13 princípios para que encontremos nossa própria forma de educar nossos filhos.
Deixarei aqui os três primeiros, para que possamos iniciar um diálogo:
1- Reflita: reveja constantemente suas próprias ações, especialmente aquelas das quais não gosta. Não se acostume com elas, dizendo que são o melhor para seus filhos. Mas não se chicoteie. Pergunte frequentemente: “é possível que o que acabei de fazer tenha mais a ver com minhas necessidades, medos e a forma como fui criado do que com o que é melhor para meu filho?”
2- Reconsidere suas demandas: pode ser que o problema não seja a criança não querer atender sua demanda, mas sim a própria demanda. Antes de buscar soluções para conseguir que seu filho faça o que você quer, veja se o seu pedido faz sentido, especialmente para a faixa etária dele. (ex: crianças pequenas vão deixar cair comida da colher ao comerem sozinhas. É muito bom que elas tentem comer sozinhas desde cedo, mas não é adequado insistir que elas não derramem a comida)
3- Mantenha o foco no longo prazo: tente se lembrar do que você quer para seus filhos. Se quer que eles cresçam e se tornem adultos intelectualmente curiosos, éticos e contentes com eles mesmos, usar estratégias como punição ou chantegem não vai ajudar.
Boas reflexões e boas conversas

Muita Paz!
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...