terça-feira, 1 de setembro de 2015

Se...


Poema Se
Prof. Hermógenes*

Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia…Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas…Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser…Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo…
Se algum ressentimento,Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,E, mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou…

Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio…
Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu…
Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia…
Se, ainda incapaz
para a beatitude das almas santas,
precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende…
Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim…
Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito…
Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter
Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz…
Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou…
Se, ao fim de meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos, Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.
Se tudo isto acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.
Terei meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter atingido a Meta.

Muita Paz!
*José Hermógenes de Andrade Filho. Tenente do exército, passou a lecionar no Colégio Militar do Rio de Janeiro, quando foi detectado com tuberculose, uma das doenças de mais difícil tratamento na época. Foi nesse momento que o Prof. Hermógenes, como passou a ser conhecido, mudaria sua trajetória em busca da consciência plena da vida. Passou a praticar a yoga escondido no banheiro do hospital, pois os médicos daquela época não aceitariam, mas foram as práticas e a meditação que conseguiram fazer com que ele superasse a doença. “A prática da yoga me tirou da normose e me levou a realização de evolução espiritual.”

Tornou-se um mestre, uma das referências mais importantes para aqueles que visam o autoconhecimento, a transformação do ser e a consciência plena. Chegou a ser considerado em 1988 o cidadão da paz do Rio de Janeiro. Professor, escritor, filósofo, poeta, terapeuta e divulgador da Hata Yoga no Brasil, doutorado em Yogaterapia pelo World Development Parliament da Índia, recebeu a Medalha de Integração Nacional de Ciências da Saúde e o Diploma d'Onore no IX Congresso Internacional de Parapsicologia, Psicotrónica e Psiquiatria (Milão, 1977).  Foi um dos primeiros a trazer a mensagem de Sathya Sai Baba para o Brasil e chegou a traduzir obras importantes do mestre para o português, "O Fluir da Canção do Senhor” (Gita Vahini) e "SADHANA, o caminho interior" (Sai Baba). Dentre suas obras de autoria, estão best-sellers como “Autoperfeição com Hatha Yoga”, “Mergulho na paz”, “Canção Universal”, “Yoga para Nervosos”, “Convite a não violência”, “Superação”, “Setas no caminho de volta”, entre outros.

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