segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O que é a negatividade?

Imagine uma criança com pais muito autoritários, uma criança para a qual qualquer sinal de rebeldia provoca ataques de ódio por parte dos pais. Esta criança aprende que o melhor meio para sobreviver é submeter-se à vontade dos pais. Ao mesmo tempo, ela cria uma barreira no seu mundo interior contra a invasão parental. Esta barreira construída com medo reprimido e raiva vai se transformar num grande NÃO contra o fluir da vida, porque sua estrutura é uma contração crônica. Ela vai prejudicar a comunicação. Futuramente essa pessoa não irá queixar-se na terapia de seu NÃO interior, mas irá se queixar de timidez, de medo de ser rejeitada, de não ser compreendida, de ser considerada agressiva mesmo quando não tinha intenção de ser agressiva. Isto acontece porque a pessoa está em contato com o lado interno da máscara. As outras pessoas podem ver o lado externo, onde a raiva vai transparecendo através do tom de voz, gestos rudes, um olhar frio. Se alguém pedir um favor a esta pessoa, ela vai escutar com atenção, e provavelmente até vai se dispor a fazer o que lhe pedem, sem sequer se perguntar primeiro se quer ou se não quer fazer o favor. O contato íntimo com o próprio ser e com suas próprias necessidades está distorcido. O medo de ser rejeitado o impede de dizer NÃO e por isso o seu SIM brota sem um envolvimento completo. A pessoa vai fazer um enorme esforço mas vai acabar achando um jeito de não fazer o favor prometido, ou de fazê-lo de modo incompleto. Ou pode também acontecer numa relação sexual, pouco antes do orgasmo, que a mulher pergunte ao parceiro: “Você tem certeza de que as luzes da cozinha estão apagadas?”
O que desejo desenvolver neste trabalho é como a Vida - fluxo, expansão, contato - assumiu o significado de Morte, e como a Morte - bloqueio, frieza, isolamento - assumiu o significado de Vida.
Wilhelm Reich percebeu que o Mal em nossa cultura tende a ser segregado e associado com impulsos sexuais e destrutivos.
A esta altura de nossa evolução como uma espécie, será uma tarefa importante redimir esta energia segregada e reintegrá-la em nossas vidas. Reich compreendeu este processo do Mal e da Praga Emocional, mas entrou em colisão com a Praga em sua própria vida. Hoje sabemos que é mais eficiente dissolver as resistências do que combatê-las. A meu ver, este processo contém as etapas seguintes:
 Perceber o paradoxo: o mesmo padrão que na infância significava sobrevivência, hoje está sufocando a Vida.
Reconhecer o esforço desenvolvido para conseguir preservar a vida.
Valorizar as forças negativas que até agora estiveram sustentando o esforço.
Re-energizar o sistema paradoxal em vez de tentar eliminá-lo. Isto se faz: a) energizando a atitude negativa inconsciente; b) desvendando a crença infantil que mantém a negatividade; c) integrando na consciência esses elementos; d) pondo o cliente como agente e não como vítima.
Alinhar esta energia na mente, no corpo e nos sentimentos e direcioná-la para um objetivo construtivo. Criar novas crenças construtivas associadas com os novos objetivos. O Mal é o resultado da distorção da energia vital que se volta contra si mesma. O mal veio a ser associado com o diabo, com as partes inferiores do ser, com a escuridão. Excluído da consciência, ele cria um território para si próprio. Onde? Será possível que ao excluir algo da nossa consciência também estamos expulsando isso de nós? Infelizmente não é verdade, nós não nos livramos do Mal. Apenas conseguimos afastá-lo para longe da percepção consciente. Onde? Em nosso corpo. Este território do Mal veio se instalar na região bloqueada e segregada abaixo do diafragma - no abdômen, na pélvis e também nas costas. Lowen diz que nós estamos vivendo nossa verdade quando estamos em contato com nossa energia sexual que está sediada na pélvis. Os Orientais ensinam que o centro HARA, localizado no baixo abdômen, é a sede da vitalidade do corpo e comanda a saúde sexual.
Portanto, se na pélvis está a sede do mal, ali também está a fonte da vida e do prazer. Este “mal” precisa ser libertado, devemos resgatar esta energia e reinvesti-la com seu significado original - anseio pela vida.
Isso parece lindo na teoria, mas a última coisa que desejamos fazer é explorar este território, porque tememos a escuridão, onde as sombras projetadas tomam a forma de monstros na imaginação infantil. Estes monstros nos amedrontam, mas eles são os guardiães das partes mais vulneráveis e menos desenvolvidas de nosso ser.
O Dragão em nosso Inconsciente
Joseph Campbell em “Poder do Mito” diz que costumamos pensar que o Ego é o Centro, que nós somos aquilo que temos consciência. Isto é um erro. A imagem do mal, a serpente que tentou Adão e Eva, o Dragão, estão associados à escuridão e à sexualidade na civilização judaico-cristã.
São Jorge matando o Dragão é uma ação constante em nossa vida. Ela nunca acaba. Representa o conflito entre o consciente e os impulsos inaceitáveis do inconsciente. Joseph Campbell diz: “Psicologicamente o Dragão representa o apego de alguém ao seu próprio pequeno ego. Nós somos prisioneiros em nossa própria caverna de dragão. O objetivo da terapia é liberar as forças de nosso centro.”
O Dragão Chinês é diferente: ele representa a vitalidade dos pântanos e emerge batendo no seu ventre e rosnando ameaçador, diz Campbell. O Dragão Chinês tem uma qualidade adorável, ele liberta a generosidade das águas.
Mas o Dragão, para nós, ao contrário da cultura oriental, reside num pântano estagnado, uma região associada com energias e material do abdômen (o pântano masoquista, sinônimo de estagnação). Por vezes o Dragão se esconde numa caverna de onde ruge ameaçando aqueles que se aproximam. Você já viu alguém com essas atitudes? Quando o sentimento de vulnerabilidade está prestes a emergir, a pessoa se transforma e começa a intimidar? Começa a mostrar o Dragão para não ter que revelar a suavidade escondida do seu coração, embora o coração, como a princesa aprisionada na caverna, esteja ansiando pela liberdade.
“Terapia é uma questão de Amor. É o Amor que Cura”, diz John Pierrakos. O Príncipe combate o Dragão para libertar a princesa. Nas velhas histórias o Dragão precisava ser morto. Nas versões modernas, o Dragão se retira, e não precisa mais morrer. Ele poderia ser transformado em guardião da liberdade, um auxiliar da princesa, que representa o coração.

                                                                                                                                        (Odila Weigand)

                                                                              psicoterapeuta em Bioenergética e Core Energetics. 


Muita Paz!

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...