O que desejo desenvolver neste trabalho é como a Vida - fluxo, expansão, contato - assumiu o significado de Morte, e como a Morte - bloqueio, frieza, isolamento - assumiu o significado de Vida.
Wilhelm Reich percebeu que o Mal em nossa cultura tende a ser segregado e associado com impulsos sexuais e destrutivos.
A esta altura de nossa evolução como uma espécie, será uma tarefa importante redimir esta energia segregada e reintegrá-la em nossas vidas. Reich compreendeu este processo do Mal e da Praga Emocional, mas entrou em colisão com a Praga em sua própria vida. Hoje sabemos que é mais eficiente dissolver as resistências do que combatê-las. A meu ver, este processo contém as etapas seguintes:
Perceber o paradoxo: o mesmo padrão que na infância significava sobrevivência, hoje está sufocando a Vida.
Reconhecer o esforço desenvolvido para conseguir preservar a vida.
Valorizar as forças negativas que até agora estiveram sustentando o esforço.
Re-energizar o sistema paradoxal em vez de tentar eliminá-lo. Isto se faz: a) energizando a atitude negativa inconsciente; b) desvendando a crença infantil que mantém a negatividade; c) integrando na consciência esses elementos; d) pondo o cliente como agente e não como vítima.
Alinhar esta energia na mente, no corpo e nos sentimentos e direcioná-la para um objetivo construtivo. Criar novas crenças construtivas associadas com os novos objetivos. O Mal é o resultado da distorção da energia vital que se volta contra si mesma. O mal veio a ser associado com o diabo, com as partes inferiores do ser, com a escuridão. Excluído da consciência, ele cria um território para si próprio. Onde? Será possível que ao excluir algo da nossa consciência também estamos expulsando isso de nós? Infelizmente não é verdade, nós não nos livramos do Mal. Apenas conseguimos afastá-lo para longe da percepção consciente. Onde? Em nosso corpo. Este território do Mal veio se instalar na região bloqueada e segregada abaixo do diafragma - no abdômen, na pélvis e também nas costas. Lowen diz que nós estamos vivendo nossa verdade quando estamos em contato com nossa energia sexual que está sediada na pélvis. Os Orientais ensinam que o centro HARA, localizado no baixo abdômen, é a sede da vitalidade do corpo e comanda a saúde sexual.
Portanto, se na pélvis está a sede do mal, ali também está a fonte da vida e do prazer. Este “mal” precisa ser libertado, devemos resgatar esta energia e reinvesti-la com seu significado original - anseio pela vida.
Isso parece lindo na teoria, mas a última coisa que desejamos fazer é explorar este território, porque tememos a escuridão, onde as sombras projetadas tomam a forma de monstros na imaginação infantil. Estes monstros nos amedrontam, mas eles são os guardiães das partes mais vulneráveis e menos desenvolvidas de nosso ser.
O Dragão em nosso Inconsciente
Joseph Campbell em “Poder do Mito” diz que costumamos pensar que o Ego é o Centro, que nós somos aquilo que temos consciência. Isto é um erro. A imagem do mal, a serpente que tentou Adão e Eva, o Dragão, estão associados à escuridão e à sexualidade na civilização judaico-cristã.
São Jorge matando o Dragão é uma ação constante em nossa vida. Ela nunca acaba. Representa o conflito entre o consciente e os impulsos inaceitáveis do inconsciente. Joseph Campbell diz: “Psicologicamente o Dragão representa o apego de alguém ao seu próprio pequeno ego. Nós somos prisioneiros em nossa própria caverna de dragão. O objetivo da terapia é liberar as forças de nosso centro.”
O Dragão Chinês é diferente: ele representa a vitalidade dos pântanos e emerge batendo no seu ventre e rosnando ameaçador, diz Campbell. O Dragão Chinês tem uma qualidade adorável, ele liberta a generosidade das águas.
Mas o Dragão, para nós, ao contrário da cultura oriental, reside num pântano estagnado, uma região associada com energias e material do abdômen (o pântano masoquista, sinônimo de estagnação). Por vezes o Dragão se esconde numa caverna de onde ruge ameaçando aqueles que se aproximam. Você já viu alguém com essas atitudes? Quando o sentimento de vulnerabilidade está prestes a emergir, a pessoa se transforma e começa a intimidar? Começa a mostrar o Dragão para não ter que revelar a suavidade escondida do seu coração, embora o coração, como a princesa aprisionada na caverna, esteja ansiando pela liberdade.
“Terapia é uma questão de Amor. É o Amor que Cura”, diz John Pierrakos. O Príncipe combate o Dragão para libertar a princesa. Nas velhas histórias o Dragão precisava ser morto. Nas versões modernas, o Dragão se retira, e não precisa mais morrer. Ele poderia ser transformado em guardião da liberdade, um auxiliar da princesa, que representa o coração.
(Odila Weigand)
psicoterapeuta em Bioenergética e Core Energetics.
Muita Paz!
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