domingo, 4 de setembro de 2011

O Trabalho Nosso de Cada Dia!

Há alguns anos, eu observava pessoas que se diziam espiritualizadas (e eram tidas como tal no meio que freqüentavam ); olhava as
fisionomias, os corpos, os jeitos de falar, de brigar, de demonstrar alegria...

Naquele tempo, eu só sentia que alguma coisa no corpo não combinava com o discurso filosófico e com os códigos de conduta que seriam coerentes. Porém, por falta das informações { cursos, estudos e vivências } que só chegariam posteriormente, eu não conseguia decodificar as discrepâncias observadas.
Meu organismo respondia a uma leitura inconsciente através de seus sinais : " Hum, isto que você está dizendo não é verdade"... Ou ainda: "Não consigo confiar em você!" Bem...mas, você, leitor, sabia que 90% de nossa comunicação é não verbal? Você sabia que, se realmente quisermos não ser somente "bonzinhos", mas vivos, completos, verdadeiros, sem máscara, o trabalho de desenvolvimento interior assume uma proporção muito mais ampliada?
Tomemos como referência, para esta curta análise, por exemplo a " Oração de Jesus em Aramaico":
"Ó Pai - Mãe do Cosmos, Origem nossa! / Direciona tua luz dentro de nós, tornando-a útil. / Cria teu Reino de Unidade, agora. / Que somente o teu desejo possa atuar dentro e junto ao nosso desejo, assim como em todas as ondas de Luz e em todas as suas formas. / Provê, para cada dia, tudo de que necessitamos em pão e entendimento./ Desfaz os laços dos erros que nos prendem, assim como nós liberamos as amarras com que aprisionamos os erros dos nossos irmãos./ Não permitas que a superfície e a aparência das coisas do mundo possam iludir-nos e libera-nos de tudo o que nos detém./ De ti, nasce toda a Vontade Reinante, o Poder e a Força Viva da ação - a canção que nos renova de idade em idade e a tudo embeleza. / Possam a Tua Vontade, poder e ação - afirmamos com viva força - ser solo fecundo de onde cresçam todas as nossas ações. Amém."
Nossa origem cósmica é a luz, a unidade com a dimensão divina. Em realidade, no silêncio de nossas meditações, na amplidão de nossa quietude e silêncio interior, afinamo-nos com este Todo que dificilmente acessamos no turbilhão de nossas inquietações diárias. Quando pedimos que a luz seja direcionada, é preciso que estejamos abertos para esta "descida" da energia em freqüência vibratória muito sutil, o que não acontece se não vencemos o empuxo gravitacional, ao qual estamos condicionados e que se caracteriza pelos apegos às coisas, aos relacionamentos, às atitudes cristalizadas no corpo.
Esta força que impede o fluxo energético, comumente limita as experiências espirituais mais genuínas e profundas, por nos colocar em sintonia com o peso, com a densidade da vida. Daí que auto - desenvolvimento autêntico significa olhar muito bem para o corpo, para os significados das ocorrências na saúde, para os sinais das situações no trabalho e na família, para tudo que nos rodeia e nos afeta, atingindo, por sua vez, o entorno. Não basta rezar! Já dizia um velho amigo terapeuta. Neste universo globalizado vibracionalmente, mascarar sentimentos, mostrar ser o que não se é, iludir, traz conseqüências à saúde social, uma vez que emperra o fluir entre as pessoas, impedindo a troca verdadeira que é uma expressão do nível divino em cada um.
O trabalho diário de construir felicidade, abundância material, afetiva, espiritual é, sobretudo, um trabalho de abertura do fluxo de energia da Consciência dentro do organismo para então, e somente a partir deste preenchimento, a pessoa irradiá-la, beneficiando o meio, tornando útil a Luz que veicula. É desta fonte que vem a chama da vida, a força, o poder real que vibra , que envolve, que revolve, constrói e cria entusiasmo. O corpo, como o nível mais denso deste aparato psicofísico, pode refletir as claridades cósmicas se puder ser delicadamente tocado, cuidado e cristalinizado a fim de que não contamine as percepções e nuble as relações interpessoais. O pedir representa o consentimento do ego para que as energias originárias dos níveis mais profundos do psiquismo atuem, fertilizando o terreno, "o solo fecundo de onde cresçam todas as nossas ações".
Um indivíduo que mais e mais se trabalha na direção de formar este solo
fecundo em sua personalidade, tem contato real com a sua sombra, com seus desejos, conhece a dinâmica de sua sexualidade, suas carências, seus vazios, sua inflexibilidade, as máscaras que precisou aprender a usar em sua história de vida. Como indivíduo maduro, aceita a si mesmo, para então transformar-se e se transcender. Passa a ser um consigo mesmo e, então abrir-se à unificação com o Pai - Mãe do Cosmos, expressa na sensação ainda transitória para a maioria de nós, de êxtase e plenitude, onde todo pão e todo entendimento aí estão, oferecidos e recebidos sem esforço.

Vêm neste momento à minha lembrança duas pacientes que muito me ensinaram. Ambas tiveram o câncer como mestre. Para uma delas, a morte foi o caminho da cura, por mais paradoxal que possa parecer. Na pseudo inconsciência dos últimos dias, ela pedia: "Abra meu canal! Abra meu canal!", numa expressão dos sentimentos ligados à verticalidade de nossa ligação com o "Reino da Unidade". Para a segunda, antes aprisionada à aparência e à materialidade, seus cabelos caindo, sua imagem mudando, foram o fertilizante das sementes do despertar da maturidade. Tornou-se compassiva, cuidadosa de si nos níveis mais profundos, capaz de se nutrir não mais de ninguém, mas da fonte real de vida. O pedir para ela tornou-se um vibrar constante, um Ser de verdade. Seus códigos de conduta e seus discursos se unificaram, irradiando a partir de seu corpo e de seu ser total um crédito de realidade. Muitos são os caminhos desta aventura evolutiva. Que os nossos possam ser pautados não pela dor que acorda, mas pela Consciência que se revela.
Muita Paz!

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